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terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Tridente chegou. Seis anos, mil milhões e dois processos depois

por Nuno Aguiar, Publicado em 03 de Agosto de 2010 | Actualizado há 10 horas
O primeiro dos dois submarinos comprados à Ferrostaal chegou ontem ao Alfeite



Seis anos depois, o primeiro dos dois submarinos comprados à empresa alemã Ferrostaal chegou ontem à base naval do Alfeite. O Tridente será recebido pelo governo numa cerimónia oficial apenas em Setembro, mas ontem já teve direito a passear-se pelas águas do Tejo perante o olhar atento de algumas dezenas de pessoas.

As boas-vindas ao Tridente começaram a ser dadas pelas 10h, quando o submarino passou junto à Ponte 25 de Abril, acompanhado por um semi-rígido da Polícia Marítima e dois dois navios dos pilotos de barra, que abriam caminho à frente do submarino, enquanto a fechar a comitiva seguiam o Tridente e dois rebocadores, que, como é normal nestas cerimónias, lançaram jactos de água para o ar. O percurso foi também acompanhado por um helicóptero Lynx da Marinha de Guerra.

O submarino foi recebido às 11h no Alfeite pelo chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) com uma pequena recepção de acordo com a tradição naval.

A factura Com o Tridente e o seu irmão Arpão - que deverá chegar a Portugal entre o final deste ano e o início de 2011 - vem também uma factura de mais de mil milhões de euros, valor correspondente a cerca de 0,6% do produto interno bruto nacional. Projectado em 2004 pelo governo de coligação PSD/CDS como um investimento de 769 milhões de euros, a compra dos submarinos fica marcada por derrapagens financeiras.

Alguns economistas, como João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), acreditam mesmo que o esforço financeiro a que obriga a compra do Tridente e do Arpão anulará o efeito das medidas de austeridade levadas a cabo por este governo. "Estimava-se que as medidas tivessem um efeito de uma redução de mil milhões de euros nos custos e um acréscimo de mil milhões de euros nos proveitos através dos impostos", explicou à Renascença. "Significa que o aumento de impostos que estamos a sofrer este ano tem o mesmo valor que os submarinos. Se o governo quer manter o défice vai ter de cortar mais mil milhões de euros em custos ou temos de aumentar mais os impostos."

nos tribunais No entanto, a polémica em torno da compra dos submarinos está longe de ser apenas financeira. De 2004 para cá, o negócio deu origem a dois processos judiciais. Um, ainda em frase de instrução, refere-se a uma acusação de falsificação de documentos e burla levada a cabo por gestores portugueses e alemães da Ferrostaal que terão lesado o Estado alemão em 34 milhões de euros.

Outro, em investigação pelo Ministério Público, tem como base uma suspeita de corrupção e branqueamento durante o processo de compra dos submarinos, envolvendo escutas de conversas entre Abel Pinheiro e Paulo Portas, que era ministro da Defesa quando foi feito o negócio com a empresa Ferrostaal.

o primeiro submarino O "Tridente" tem quase 70 metros e pesa mais de duas mil toneladas em imersão. Com uma autonomia de 12 mil milhas, o submarino tem uma guarnição de 33 homens, sendo comandado pelo Comandante Salgueiro Frutuoso.

O "Tridente", comprado com o objectivo de proteger a enorme área marítima portuguesa, está equipado com um sistema de armas com mísseis de longo alcance, mar-mar e mar-terra, torpedos de longo alcance, minas e armamento ligeiro para protecção própria quando está a navegar à superfície.

Para 8 de Setembro está marcada a cerimónia oficial de recepção em que será entregue o estandarte nacional ao navio e inauguradas as infra-estruturas remodeladas da Esquadrilha de Submarinos