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domingo, 3 de maio de 2009

O FX Naval da MB e a Gripe da Pulga

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Author: Roberto Silva

O FX Naval da MB e a Gripe da Pulga

Francisco Braz Para o Defesa BR

Tive uma crise de “gripe da pulga” e tive que escolher entre pular e escrever… Optei por pular primeiro e escrever depois. Por que? Simples… Ao pular, gastei o excesso de energia otimista e comecei a raciocinar friamente.

Afinal de contas, nenhum país é tão benévolo com outro sem uma contra partida. Nada pode ser bom se não soubermos o preço embutido no pacote.

Então comecei a raciocinar… O que os franceses ganham com tanta gentileza? Por que nunca foi proposto um pacote destes antes? O que os americanos e coreanos querem com tantas facilidades?

E agora começo a destrinchar os “pratos” oferecidos.

Começando pelos americanos, cujo pacote, ainda que muito atraente, me parece o mais fraco. Primeiro, antevendo protestos acalorados do Tadeu Mendes, devo explicar o sentido de “fraco” na frase. Não me refiro ao equipamento oferecido, mas como ele é oferecido. Em poucas palavras… Não reverterá em conhecimento para a indústria nacional. Estaremos amarrados aos fornecedores americanos e, a exemplo do que ocorre com Black Hawks do EB, na disponibilidade de peças e pessoal para manter nossos meios.

Radares AEGIS, mísseis SM-2 e Harpoons são armas muito sofisticadas e requerem manutenção apurada e constante… Quem se encarregará dessas manutenções? Não há sequer um zumbido para indicar a mínima possibilidade de tal operação ser repassada para empresas brasileiras. E na impossível hipótese de transferência deste conhecimento para o Brasil, a que altura os australianos, israelenses, japoneses, ingleses e coreanos iriam pular por não terem as mesmas facilidades?

Os EUA de Obama nos vêem com novos olhos, mas não tão bons assim. Alem do mais, estes meios serão nossa linha de batalha muito tempo depois que Obama, ainda que se reeleja, deixar a presidência dos EUA. O seu sucessor nos terá em tão alta conta assim?

Para ilustrar a situação, o link http://www.naval.com.br/historia/lagosta/lagosta3.htm, no final da página, está um diálogo nada amigável entre o adido naval americano e nosso chefe do estado-maior da armada por ocasião da utilização de dois destróieres da classe Fletcher que, na época da guerra da lagosta, eram nossas melhores belonaves. Para falar a verdade, eram as únicas que funcionavam e poderiam se opor à frota francesa em caso de conflito aberto.

Agora vejamos o porquê dos americanos estarem, repentinamente, tão amigáveis com o Brasil. Os russos e chineses estão estabelecendo cabeças-de-ponte na América Latina. Já têm sob suas influências a Venezuela, o Equador, a Bolívia, o Paraguai e, discretamente, a Argentina. O Peru já é antigo usuário de equipamentos russos. Até ai tudo bem, ainda sobram, além do Brasil, Chile e Colômbia. Se o Brasil estreitar muito os relacionamentos com russos e chineses, os americanos terão o inimigo em seu “quintal” e perderão a América do Sul, mesmo que fiquem com o Chile e Colômbia.

Não sei se vocês jogavam aquele joguinho WAR, mas o primeiro objetivo de qualquer bom jogador, com ambições de conquista das Américas, era conquistar a América do Sul e depois partir para a do Norte. Será que a vida imita o jogo (e não a arte)?

Bom, deixando os americanos de lado, o que os coreanos têm de bom na sua proposta?

A proposta coreana nos é bem conhecida e já foi até discutida aqui. Acho, Roberto, que seria até bom dar uma relida naquela matéria para manter a oferta em perspectiva.

Salvo tenha sido modificada, a Hyundai oferecia o KDX-II como meio a ser produzido aqui no Brasil, modernizar o AMRJ e 10 corvetas Pohang de brinde. O problema do KDX-II é o mesmo do Hobart… Seus equipamentos são todos americanos e sujeitos a limites maiores que se fizermos o negócio com os americanos. É interessante, sim! Preferencial? Tanto quanto negociar com os americanos.

Volto a frisar… Minha restrição é política, não tecnológica. O equipamento é todo de primeira linha, mas não teríamos liberdade de comerciá-lo com ninguém e seu custo não poderia ser diluído em equipamentos de uso dual. É bom lembrar que os americanos vetam até a venda de alguns brinquedos por usarem tecnologia militar (só nos EUA mesmo. Pode fabricar brinquedo com componentes militares?).

E agora, o filé das propostas… A francesa.

Os franceses ofertam as FREMM, dois LPD mais novos que os nossos “Rio de Janeiro” e “Ceará”, acenam com a assistência para o projeto de míssil SS de médio alcance, participação no desenvolvimento e produção de um dos melhores mísseis AA BVR do mercado (o Meteor supera o desempenho do AIM-120 americano) e os mais novos mísseis de defesa aérea europeus (Aster 15 e 30) para uso pelo EB e a MB. Falam, até, na assessoria na produção do NAe que substituirá o A-12. Este último item, acredito eu, será o mais custoso, pois, se a MB terá 3 frotas, vamos ter que construir 3 NAes.

O que há de errado com a proposta francesa? NADA! É o maior pacote de transferência tecnológica já visto, acredito eu, no mundo.

Nem americanos, nem coreanos têm condições de fazer nada melhor. Os coreanos dependem de autorização dos americanos para instalar quaisquer dos armamentos propostos e não poderão transferir qualquer conhecimento dos mesmos por força de contrato.

Quantos aos americanos, se abrirem para o Brasil informações técnicas para a manutenção ou fabricação de componentes das armas (e sistemas) ofertados, enfrentarão grandes problemas com aliados históricos que nunca receberam tais informações e vivem na dependência da indústria e dos técnicos americanos.

Logo, a independência que nos é ofertada pelos franceses é imbatível. Todos os produtos ofertados são de projeto e fabricação francesa, ainda que em alguns casos sejam fruto de parcerias com outras nações.

Mas o que torna o Brasil tão atraente para merecer tal atenção do mundo? Não é o samba, nem o futebol e muito menos as nossas mulatas. Excluídos nossos mais conhecidos itens de exportação, o que nos tornaria tão atraentes para franceses, coreanos e americanos?

Vejamos…

Recursos naturais (hídricos e minerais) não explorados, biodiversidade impar, um parque industrial ocioso, infra-estrutura obsoleta (parece ponto negativo, mas não é), padrão de qualidade europeu, mão-de-obra abundante, carente de especialização e criativa, estabilidade política, regime democrático, ausência da xenofobia mundial, com projeção no cenário internacional e economia estável.

Antes de prosseguir, devo explicar porque vejo como ponto atrativo a falta de infra-estrutura e mão-de-obra carente de especialização. Simples! É mais uma frente de negócios que eles terão aqui, ou seja, na educação e na atualização da infra-estrutura.

Em tempos bicudos, qualquer negócio em que os franceses (coreanos e americanos também) puderem colocar a mão, é mais verba para manter as empresas lá. Não bloqueamos a remessa de lucros das multinacionais para suas matrizes.

Comparando a situação político-econômica mundial com o que enfrentamos aqui (vão me xingar!), não estamos enfrentando nada mais que as tais marolas do Lula. A coisa aqui não está bonita, mas, com certeza, muito melhor do que está lá fora. A GM americana está fechando fábricas nos EUA, enquanto no Brasil vai abrir nova fábrica de motores e manter seus investimentos aqui.

Se a GM americana quebrar, a filial brasileira poderá financiar o ressurgimento da matriz. Lembram da vinda da corte portuguesa para o Brasil quando Napoleão invadiu Portugal? É algo do gênero.

Se não formos travados por nossos políticos, é o momento do Brasil assumir, se não o primeiro lugar no mundo, um terceiro quase segundo (disputaremos com EUA e China). Acho que é isso que os franceses vêem no Brasil. Alguém que estará no topo quando este inferno mundial acabar.

Foi mais ou menos o mesmo que fizeram por ocasião da independência dos EUA. Na época, foi uma forma de enfraquecer os ingleses… Agora é uma forma de enfrentar, simultaneamente, chineses e americanos.

Bom… Vamos ver no que vai dar.

Francisco Braz Para o Defesa BR

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