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sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Dificuldades para os submarinos S-80

Do Site: http://sistemadearmas.sites.uol.com.br/

Espanha: Dificuldades para os submarinos S-80
Rumores de cancelamento, por entre atrasos do programa

02.03.2007

A imprensa espanhola, embora com alguma timidez, tem vindo a referir com cada vez mais insistência os problemas com o desenvolvimento do submarino espanhol conhecido como projecto S-80.

O S-80, nasceu da cooperação entre a indústria francesa DCN e a industria espanhola (Izar / Navantia). O nome do projecto conjunto chamou-se Scorpéne.
O projecto Scorpéne implicava a construção de metade de cada submarino na França e outra metade na Espanha, embora o consórcio fosse 67% francês e 33% espanhol.

A Espanha no entanto, que inicialmente previa apenas pequenas modificações locais ao submarino, cedo começou a projectar modificações mais complexas.
A maior alteração ao projecto, ocorreu quando se confirmou que a Espanha optaria por um sistema de combate (conjunto de hardware e de software que coordena e gere as armas a bordo do navio) de fabrico americano, preterindo o sistema francês «Subtics».

O desagrado francês não deixou de se notar, e à medida que a DCN e a Navantia se afastavam, mais alterações se incorporavam ao navio espanhol, que passou a ser conhecido como um projecto diferente do próprio Scorpéne.

As notícias sobre as más relações entre a francesa DCN e a espanhola Navantia, que foram noticiadas pelo areamilitar em Setembro, foram sendo confirmadas por várias publicações especializadas, quer nos meios de comunicação impressos quer nos digitais.

No final de 2006, os franceses, irritados com o facto de os espanhóis terem aproveitado um submarino essencialmente francês, para substituírem todo o seu interior com produtos de outras origens, não estiveram com meias medidas, e apresentaram um submarino «novo», que não é mais que um submarino Scorpéne com outro nome, a que juntaram modificações pontuais. O novo «Marlin», pode assim ser apresentado pelos franceses no mercado internacional, sem que os espanhóis participem no processo, e a Espanha, se quiser tentar vender o Scorpéne, tem que contratar pelo menos 50% da sua construção aos franceses, os quais acabam ganhando de uma maneira ou de outra.

Mas as dores de cabeça espanholas são mais complicadas que os arrufos e a irritação dos franceses.

Inicialmente foram feitos estudos em Espanha, para desenvolver um sistema AIP, juntamente com a alemã MTU, mas os resultados não foram aceitáveis e a opção da industria espanhola, foi bater à porta da UTC-Power, do grupo United Technologies, que nos Estados Unidos desenvolve estudos e pesquisa na área das células de combustível, tornando o processo mais dependente da industria americana.[1]

5 anos para desenvolver um sistema:

Para piorar as coisas, e embora não tenha sido dado grande relevo à notícia, o tempo previsto para o desenvolvimento de um sistema viável de células de combustível AIP para os submarinos espanhóis seria segundo a própria United Technologies de cinco anos [2], o que leva a concluir que tal sistema só esteja pronto em 2011, atrasando inevitavelmente o prazo de entrega previsto para o primeiro submarino, pelo menos para 2012/2013 e o último para 2016/2017.
Somando a isto, o submarino Scorpéne, em cuja estrutura se baseia o S.80, foi pensado para o sistema MESMA de propulsão independente do ar, que queima Oxigénio e Etanol cuja reacção faz mover uma turbina a vapor.
A troca do MESMA por um sistema de células de combustível, coloca os projectistas espanhóis (que foram apenas responsáveis por uma parte do projecto) com problemas de solução relativamente complexa.

O diagrama mostra as diferênças na colocação dos principais componentes dos sistemas AIP MESMA e do sistema de células de combustível


Ao contrário do MESMA, um sistema MPP (Membrana de Permuta de Protões) de células de combustível, funciona juntando Oxigénio e Hidrogénio, e para isso é necessário transportar quantidades consideráveis destes dois reagentes.

A industria espanhola, tem vindo a tentar desenvolver um sistema que permita aproveitar o facto de o Scorpéne incluir tanques de Etanol (utilizado para o sistema MESMA) para a partir do Etanol produzir Hidrogénio, evitando assim a complexidade associada ao transporte daquele tipo de combustível.

Mas os atrasos no desenvolvimento de um sistema capaz de efectuar a produção local de Hidrogénio, pode levar a que se tenha que recorrer ao transporte do Hidrogénio em tanques. O problema é que é necessário ter cuidados especiais com a localização do Hidrogénio, e o Scorpéne, foi inicialmente desenhado para incluir tanques de Oxigénio e de Etanol, mas não para transportar tanques de Hidrogénio, que nos submarinos alemães, por exemplo, é transportado em tanques colocados entre o casco pressurizado e o casco exterior (tecnicamente da parte de fora do submarino).

Como o sistema MESMA, foi desenhado para conter todos ou praticamente todos os seus componentes num módulo cilíndrico, que se pode mesmo instalar depois de o submarino ter sido construído, cortando o submarino e colocando a nova secção com o AIP, ele não considerou a necessidade da colocação de pesado tanques para transportar um combustível volátil como o Hidrogénio.

Como os técnicos espanhóis não conseguiram desenvolver o seu próprio sistema AIP de células de combustível e tiveram que encomendar o seu estudo e desenvolvimento aos americanos, neste momento eles não têm como saber que sistema vai sair do período de desenvolvimento, nem tão pouco sabem como será que vai funcionar o sistema de produção de Hidrogénio de alto grau de pureza (se o conseguirem inventar) e onde vão colocar os sistemas, os tanques, as válvulas, e toda a parafernália necessária para fazer mover o submarino com o AIP ligado.

Juntando aos inevitáveis atrasos, parecem aumentar as críticas ao facto de o S-80 não dar aos espanhóis praticamente nada em termos de desenvolvimento de sistemas, porque o sistema de propulsão será americano, o sistema de combate também, os torpedos e tubos de torpedos deverão ser alemães, os mastros e sistemas telescópicos serão igualmente de proveniência americana, embora em principio fabricados na Itália, e os famosos mísseis Tomahawk que a Espanha pretende comprar também virão da América.

O S-80, ficará assim em parte refém da politica externa dos Estados Unidos, que podem a qualquer altura proibir a exportação do submarino se os espanhóis estiverem interessados em vende-lo para algum cliente que desagrade a Washington.

Todo o projecto está envolvido em demasiadas incógnitas, e o provável aumento de custos, resultado dos atrasos, pode acabar por transformar o S-80 no mais caro submarino convencional europeu.

Existem rumores de opiniões favoráveis ao cancelamento do projecto S-80 e à sua substituição por qualquer coisa mais simples, já desenvolvida, e que permita à industria espanhola um desenvolvimento mais sustentado, embora mais vagaroso.

Para já, parecem ganhar contornos os projectos de modernização dos submarinos Agosta, aos quais se poderá acrescentar também o sistema AIP. Porém não se sabe que tipo de sistema AIP poderá ser considerado.



[1] Os números avançados pelo futuro fabricante do sistema AIP, a United Technologies, apontam para células de combustível do tipo PEM, idênticas às utilizadas pelos submarinos U212 e U214 alemães, embora pelos dados conhecidos o S-80 seja um submarino 25% maior que os submarinos alemães. Neste caso, a potência menor, reduzirá a velocidade máxima de operação, ou então o período máximo de navegação em modo AIP.

[2] A indústria alemã, chegou a estudar sistemas AIP nos anos 70, mas concluiu que a tecnologia não estava suficientemente apurada. No final dos anos 80, continuavam os trabalhos e apenas e 1996, foi finalmente produzido um módulo viável para utilização num submarino.

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