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quinta-feira, 30 de agosto de 2007

BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO ALTE. TAMANDARÉ

ALMIRANTE JOAQUIM MARQUES LISBOA
MARQUÊS DE TAMANDARÉ
PATRONO DA MARINHA


ALOCUÇÃO COMEMORATIVA DO BICENTENÁRIO DE
NASCIMENTO DO ALTE. TAMANDARÉ,
PROFERIDA PELO ALTE. FERNANDO M. F. DIÉGUES,
NO CLUBE NAVAL, EM 9 DE AGOSTO DE 2007


Agradeço o honroso convite, que com
muito gosto aceitei, para proferir a alocução comemorativa dos duzentos
anos de nascimento do Patrono da Marinha, Almirante Joaquim Marques
Lis-boa, Marquês de Tamandaré.
O evento dá ensejo a relembrar-se a vida desse grande marinheiro, um dos
cidadãos mais ilustres de seu tempo e da própria história do Brasil. É bem
verdade que, para nós, Tamandaré não é um personagem estranho. Desde cedo
nos acostumamos a contemplar sua imagem estampada nos livros escolares, em
uniforme de gala, o peito coberto de condecorações. Mais tarde, ao
ingressar na Marinha, nos familiarizamos com passagens da carreira, com
seu perfil de chefe consciente e desprendido. Hoje, o bicentenário de seu
nascimento nos propor-ciona a oportunidade de explorar mais uma vez,
contando, agora, com a matu-ridade e a experiência trazidas pelo tempo, o
patrimônio moral e profissional que ele nos deixou.
Tamandaré nasceu na então Vila do Rio Grande, em 13 de dezembro de 1807, e
faleceu no Rio de Janeiro, aos oitenta e nove anos de idade, em 20 de
março de 1897. Viveu, servindo ao país na Marinha, um longo período de
nossa história. Quase todo o século XIX. Um período que viu o nascimento
do Esta-do brasileiro e o despertar do Brasil como nação; sacudido por
movimentos po-líticos internos que ameaçaram a unidade nacional; agitado
por conflitos exter-nos que levaram nossas forças navais às águas do rio
da Prata; marcado, enfim, por circunstâncias e acontecimentos, que, de
uma forma ou de outra, influenci-aram, ou mesmo transformaram, a vida do
país. Não creio que se possa exami-ná-lo satisfatoriamente sem lembrar a
ação de Tamandaré; ou falar de Taman-daré, sem ter como pano de fundo
alguns dos episódios mais relevantes desse período.
A começar pela Independência. A separação de Portugal dava ao Brasil a
condição de construir livremente o seu futuro. Uma das medidas necessárias
à sua consolidação seria a criação de uma Marinha à altura - como dizia
José Bo-nifácio - da "dignidade e grandeza deste Império". Ela foi sendo
organizada. Entre as providências tomadas para guarnecer seus navios foi
promulgado um decreto em que D. Pedro apelava para o voluntariado.
O apelo retiniu no espírito brioso do jovem Joaquim Marques Lisboa. Após
convencer o pai, que pretendia encaminhá-lo à vida comercial, a requerer
seu ingresso na Marinha, foi nomeado, em 4 de março de 1823, com apenas
quinze anos de idade, "para embarcar" - como rezava o documento de sua
nomeação - "na qualidade de Voluntário da Armada, recebendo somente a
ra-ção, a bordo da fragata Niterói". A carreira do futuro Patrono da
Marinha co-meçava no mesmo tempo em que se iniciava a trajetória do Brasil
como um país independente.
Dois meses depois, Marques Lisboa teria seu batismo de fogo em águas da
província da Bahia, no combate naval de 4 de Maio. Mais tarde, com a
reti-rada das tropas portuguesas, participa, a bordo da Niterói, da
perseguição e apre-samento de navios inimigos até a embocadura do Tejo, no
decorrer de cinco meses de cruzeiro.
Terminada a guerra, Marques Lisboa foi matriculado na Academia Impe-rial
da Marinha. Nela permaneceu, no entanto, por apenas cerca de cinco meses.
Atendendo a um pedido do Almirante Cochrane, o Imperador designou-o para
servir na nau Pedro I. A nau suspenderia para o Recife integrando uma
divisão com a missão de bloquear o porto da cidade, onde fora proclamada a
Confede-ração do Equador. A campanha se estendeu às províncias do Ceará,
Maranhão e Grão-Pará. A Pedro I retornou à Corte após um ano e quatro
meses de comissão.
É muito razoável imaginar que essas campanhas - a da Independência e a da
Confederação do Equador - tenham sido para o Voluntário Marques Lis-boa um
verdadeiro ritual de iniciação, a confirmação definitiva de uma
inaba-lável vocação para a vida do mar. Uma vocação dirigida - não creio
que se possa ter muita dúvida sobre isso - para o modelo de oficial de
Marinha que ele podia contemplar todos os dias no tombadilho de seu navio,
a nau Pedro I, represen-tado pela figura legendária de Cochrane. O ainda
adolescente não poderia dei-xar de encantar-se, de render-se à influência
do prestígio e do renome de al-guém, com a história de lutas e serviços,
embalada em uma aura de mito, do Primeiro Almirante do Brasil.
Mas, também, por outro lado, a impressão deixada por Marques Lisboa em
seus chefes não seria irrelevante ou superficial. Muito ao contrário, eles
re-conheceriam naquele Voluntário da Armada as aptidões e o talento dos
grandes marinheiros. Taylor, seu comandante na fragata Niterói, diria, em
despacho ao Ministro da Marinha, que Marques Lisboa prometia "para o
futuro fazer honra à Marinha deste Império". Cochrane, com larga
experiência de vida e das lides navais, poderia garantir ao Imperador que
esse "quase menino é uma das mais promissoras esperanças da Marinha
Brasileira".
O então Tenente Marques Lisboa não ficaria muito tempo no Rio de Ja-neiro
após a campanha contra a Confederação do Equador. Um novo conflito se
delineava no sul do continente. Em outubro de 1825, o Congresso das
Pro-víncias Unidas do Rio da Prata - como se chamava, na época, a
Argentina - decretava a incorporação da Cisplatina, que na ocasião fazia
parte do Brasil. O ato equivalia a uma declaração de guerra, e o Governo
imperial responderia a essa provocação ordenando o bloqueio do porto de
Buenos Aires. Um mês de-pois do regresso à Corte, Marques Lisboa se
apresentava em Montevidéu para servir na barca-canhoneira Leal Paulistana.
Os combates e peripécias da Guerra da Cisplatina foram para o jovem
tenente experiências que lhe permitiram pôr à prova o espírito de
iniciativa e a determinação próprios de seu caráter; lições resultantes do
enfrentamento de imprevistos e perigos, que concorreram para aprimorar sua
formação, para a consolidação de um perfil de marinheiro e combatente, que
não deixou de cultivar pelo resto da vida.
Ele participa, na Leal Paulistana, da batalha naval de Corales; e, mais
tar-de, como oficial da Niterói, da batalha naval de Lara-Quilmes. Por
suas qualida-des de inteligência, bravura e sangue frio, conforme então
destacadas por seu comandante, o Capitão-de-Fragata James Norton, foi-lhe
entregue, ainda com dezoito anos de idade, no dia seguinte ao da vitória
de Lara-Quilmes, o co-mando do brigue-escuna Constança.
Participa das duas expedições à Patagônia contra as bases dos corsários
que saqueavam o litoral e navios brasileiros. Na primeira expedição,
graças a uma arriscada manobra com o Constança, recolhe a grande maioria
dos tripulan-tes da corveta Duquesa de Goiás, encalhada e começando a
soçobrar. Prisioneiro com outros brasileiros em um brigue inimigo,
liberta-os num golpe de audácia, e assume o controle do navio. Na segunda
expedição, passa pela experiência da perda do navio em que servia, a
corveta Maceió, levada, pela traição do prático contratado em Montevidéu,
a chocar-se com um banco de areia. Anima e ori-enta os tripulantes da
corveta. Salva-se nadando com outros marinheiros para o brigue Caboclo.
Em Montevidéu, novos desafios o aguardavam. É nomeado comandante da escuna
Bela Maria. Enfrenta o brigue Ocho de Febrero, comandado pelo célebre
Tomás Espora. O combate termina com a captura do Ocho de Febrero. Na
escuna Rio da Prata, que passara a comandar após a Bela Maria ser
recolhida para repa-ros, persegue e aprisiona a galera armada em guerra
Gobernador Dorrego, que ten-tava romper o bloqueio.
Ainda permaneceria, após a assinatura da Convenção Preliminar de Paz entre
o Brasil e as Províncias Unidas, por cerca de dois anos em serviço no
Prata. Seriam ao todo cinco anos de lutas e privações, durante os quais
desenvolveu o discernimento, o equilíbrio e a confiança peculiares aos
grandes chefes navais.
Regressa ao Rio de Janeiro em maio de 1831, ao iniciar-se, com a
abdi-cação de D. Pedro I em favor de seu filho, uma fase de turbulências,
de levantes e insurreições, que punham em xeque a unidade política e
territorial do país. A natureza das lutas em que agora se envolveria já
não era a mesma das guerras da Independência ou da Cisplatina. Já não
teriam como alvo um inimigo externo, mas a pacificação e a recondução das
províncias rebeldes à comunidade política nacional.
Ainda no comando da escuna Rio da Prata, Marques Lisboa participa das
forças que sufocam as revoltas no Recife, em setembro de 1831 - a
Setembri-zada - e em abril do ano seguinte - a Abrilada. Três anos depois,
com a irrup-ção da Cabanagem no Pará, participa, com o brigue Cacique, do
bloqueio do porto de Belém. No entanto, enfraquecido pelas febres do
beribéri contraído na região, é obrigado a deixar o comando do navio e a
seguir para o Rio de Janeiro no palhabote Brasília.
O destino lhe reservava novas surpresas. Ao fazer escala na Bahia, o
Bra-sília é retido pelo movimento que eclodira em Salvador proclamando a
indepen-dência da província. Mesmo doente, Marques Lisboa se apodera de
uma canho-neira sob o controle dos revoltosos, reintegrando-a às forças
legalistas. Com o agravamento da doença, parte para o Rio de Janeiro,
regressando dois meses depois, já curado, a tempo de tomar parte na luta
final que leva à rendição dos chefes da Sabinada.
Em fins de 1838, uma nova revolta, a Balaiada, eclode no Maranhão.
De-signado comandante da força naval em operações contra os balaios, o
Capitão-Tenente Marques Lisboa segue para a província, onde organiza a
defesa de São Luís, atúa com seus navios no bloqueio dos portos e
estuários, na vigilância da baía de São Marcos, no apoio às operações em
terra. Afirma-se como o braço direito político e militar do Coronel Luís
Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, nomeado Presidente e
Comandante Geral das forças legalistas na província
Já Capitão-de-Mar-e-Guerra graduado, iria deparar-se com mais uma
re-volta, a Praieira, ao chegar no porto do Recife comandando a fragata D.
Afonso. Assume, como mais antigo presente, o comando da força naval ali
estacionada. Nos últimos dias do conflito, quando os praieiros derrotados
abandonavam a cidade, dá provas de senso de justiça e humanidade. Impede,
pondo em risco a própria vida, que adversários locais dos praieiros,
tomados por sentimentos de vingança, executassem sumariamente seus
prisioneiros. Na opinião de um historiador, foi mais um "belo ato que
praticou em tão cruenta e triste jornada de nossas contendas civis".
O longo período de nossa história vivido por Tamandaré não foi, contu-do,
apenas de guerras e insurreições. Foi também de grandes mudanças na
eco-nomia do país. O fim do ciclo de lutas internas coincide com o início
de uma fase em que a economia brasileira passa por importantes
transformações. São dessa época, dos anos 1850, as primeiras estradas de
ferro, a instalação de telé-grafos, a criação de uma linha de barcos a
vapor, a formação de novas empresas comerciais e industriais, o impulso
dado à construção naval com os Estaleiros da Ponta da Areia.
A Marinha não ficaria à margem dessas transformações. Nessa época, ela
deixa definitivamente a navegação a vela, atravessa uma etapa
intermediária, ou mista, a vela e a vapor, e entra na era do pleno vapor.
O Capitão-de-Mar-e-Guerra Marques Lisboa teria um papel a desempenhar
nesse processo. Nomea-do, em 1847, para o comando da fragata D. Afonso,
seria o primeiro oficial a co-mandar o primeiro navio de grande porte a
vapor da esquadra brasileira. Inau-gurava, assim, uma nova etapa da
evolução da Marinha, a dos vapores armados em guerra.
No comando da D. Afonso, Marques Lisboa contribuiu para a superação das
restrições que muitos faziam a esses navios. Ao demonstrar suas qualidades
manobreiras no salvamento de passageiros e tripulantes da galera americana
Ocean Monarch, que se incendiava ao largo de Liverpool, e da nau
portuguesa Vasco da Gama, prestes a naufragar sob violenta tempestade nas
proximidades da baía de Guanabara - salvamentos que, na ocasião, tiveram
repercussão inter-nacional - dava argumentos convincentes ao Governo
imperial para a constru-ção de novos vapores.
No final da década de 1850, daria mais uma contribuição à atualização dos
meios flutuantes da Marinha. Já promovido a Vice-Almirante, selecionou os
estaleiros, assinou os contratos e fiscalizou a construção de dez
canhoneiras a vapor na Europa, que, mais tarde, seriam empregadas na
Campanha do Uruguai e na Guerra do Paraguai.
Por essa época, já era tempo de que os serviços por ele até então
presta-dos ao Brasil fossem devidamente reconhecidos. Assim, em março de
1860, foi agraciado com o título de Barão de Tamandaré, nome de um
pequeno porto no litoral pernambucano, na defesa do qual morrera um de
seus irmãos, Manuel Marques Lisboa, combatendo pela Confederação do
Equador. O título foi esco-lhido pelo próprio Imperador D. Pedro II, que,
num gesto magnânimo, dese-jando dessa forma demonstrar sua estima pelo
homenageado, desprezou o fato de que esse irmão, a quem Tamandaré devotava
grande afeição, fora inimigo ferrenho da monarquia.
Os últimos anos de Tamandaré nos conveses dos navios da Marinha te-riam
novamente como cenário a região do rio da Prata, palco, desde o período
colonial, de disputas e controvérsias, reavivadas, em anos mais recentes,
pelo próprio processo de formação dos Estados da região, há pouco tempo
indepen-dentes, politicamente instáveis, irrequietos, quase sempre
envolvidos em litígios com seus vizinhos. Era esse o caso do Uruguai,
mergulhado nas lutas entre o partido blanco, apoiado pelo Paraguai, e o
partido colorado, simpático ao Brasil e à Argentina.
Em abril de 1864, estando o partido blanco no poder, as freqüentes
incur-sões no Rio Grande do Sul, os roubos de gado e ataques às
propriedades de brasileiros estabelecidos no Uruguai, levaram o Governo
imperial a enviar a Montevidéu o Conselheiro José Antonio Saraiva, com a
missão de exigir a puni-ção dos responsáveis e a indenização dos prejuízos
causados aos brasileiros. De acordo com as instruções recebidas por
Saraiva, seriam exercidas represálias ca-so essas exigências não fossem
satisfeitas. O Governo imperial nomeia, ao mes-mo tempo, o Vice-Almirante
Joaquim Marques Lisboa Comandante-em-Chefe das forças navais brasileiras
no rio da Prata.
As negociações entre o diplomata brasileiro e a as autoridades uruguaias
não chegam a um desfecho positivo. Fracassam inteiramente. Saraiva se
retira para Buenos Aires, deixando o Vice-Almirante responsável pelos
interesses brasileiros no país. A ocorrência de novos atos de violência
protagonizados por elementos do partido blanco, levam Tamandaré a declarar
os portos de Salto e Paissandu sob bloqueio. Sitiada por terra pelas
tropas uruguaias do chefe do partido colorado, General Venâncio Flores e
por um grupo de desembarque das canhoneiras, Salto capitula. O assédio das
forças navais, das tropas do General Mena Barreto e da brigada uruguaia de
Venâncio Flores termina com a rendição e a ocupação de Paissandu.
Na seqüência dos acontecimentos, Tamandaré declara o porto de Mon-tevidéu
sob bloqueio, enquanto as forças dos generais Mena Barreto e Venân-cio
Flores avançam por terra sobre a cidade. O Convênio de Paz de 20 de
feve-reiro resulta na ocupação de Montevidéu. O General Venâncio Flores
assume o governo provisório do Uruguai.
Tamandaré, contudo, desaprova os termos do convênio assinado, do lado
brasileiro, pelo Conselheiro José Maria da Silva Paranhos, substituto de
Sa-raiva. Ao expor em ofício ao Ministro da Marinha seu desagrado, mostra
a de-cisão e a firmeza - poder-se-ia dizer, a intransigência - com que
defende, não qualquer tipo de interesse material, mas a própria imagem de
respeitabilidade do Brasil.
Em sua opinião, o convênio não atendia às condições que o Brasil se achava
no direito de exigir. Diz, no ofício ao Ministro da Marinha, que a paz
de-veria assentar-se principalmente na reparação "do último insulto feito
à nossa bandeira", arrastada e enxovalhada, em 9 de fevereiro, pelas ruas
de Montevidéu - ou seja, continua - "na prisão e punição das pessoas que
compunham o Go-verno e de outras altamente colocadas, que planejaram e
puseram em execução essa infâmia".
Inconformado, solicita ao Ministro que apresente ao Imperador o pedido de
sua exoneração. E acrescenta: "se, para obter esta exoneração, for
necessário demitir-me do posto honroso e de tudo quanto tenho adquirido em
minha lon-ga vida militar, não duvido fazer este sacrifício, contanto que
salve a dignidade de meu país e a minha própria".
Apesar das críticas à ação de Tamandaré encaminhadas por Paranhos ao
Governo imperial, o Conselheiro é dispensado da missão que lhe fora
confiada no rio da Prata menos de um mês depois da assinatura do convênio.
O Vice-Almirante é confirmado no cargo de Comandante-em-Chefe das Forças
Brasi-leiras - forças que viriam a tomar parte, agora, em uma longa e
cruenta cam-panha contra o ditador do Paraguai.
De fato, um novo conflito se armava no panorama turbulento da bacia
platina. O Presidente Solano López proibira a navegação dos navios de
ban-deira brasileira nas águas fluviais do Paraguai. Mandara aprisionar o
navio mercante brasileiro Marquês de Olinda. Em dezembro de 1864, declara
guerra ao Brasil e, poucos dias depois, desencadeia o ataque ao forte da
Nova Coimbra, no sul mato-grossense.
A invasão da província argentina de Corrientes por Solano López leva à
assinatura do Tratado da Tríplice Aliança pelo Brasil, Argentina e
Uruguai. Es-crupuloso na defesa dos direitos e da soberania do Brasil,
Tamandaré também não veria com bons olhos esse tratado. Ele concedia ao
Presidente Mitre, da Argentina, o comando supremo das forças aliadas.
Deixava o Brasil - dono de um volume de recursos muito maior, e o único
dos três países a possuir uma es-quadra capaz de enfrentar a do agressor -
em situação de dependência e, de certa forma, subalterna.
Graças à sua intervenção, a esquadra brasileira foi excluída dessa
subor-dinação; mas as discordâncias entre os generais brasileiros e o
Presidente Mitre viriam, mais tarde, a justificar seu descontentamento.
Como aconteceu no sítio de Uruguaiana.
Nessa ocasião, o Vice-Almirante e o General futuro Conde de Porto Ale-gre
resistem - e nessa resistência são bem sucedidos - à entrega do comando de
nossas forças, dentro do território brasileiro, a alguém que, embora fosse
amigo, tinha a seu cargo os interesses de outro país. Como diria Tamandaré
em ofício ao Ministro da Guerra: "Seria um absurdo, uma indignidade
monstruosa, sujeitarmos nossas forças de uma maneira tão completa a um
general estran-geiro, que não pode nem deve dispor do sangue brasileiro e
de nossos recursos a seu arbítrio".
Os fatos relativos à ação das forças navais sob o comando de Tamandaré são
bem conhecidos de todos nós. Ele concebe o plano de campanha. Declara o
bloqueio dos portos inimigos. Após a vitória em Riachuelo, concentra-se no
apoio à esquadra desgastada pela batalha. Insiste com o Governo imperial
na necessidade de contar com navios encouraçados - que, aos poucos, vão
sendo incorporados à esquadra - para enfrentar as poderosas fortalezas às
margens do rio Paraguai..
Em Uruguaiana, dá-se a rendição dos paraguaios e a retomada da cidade, que
os chefes aliados queriam bombardear, sendo, no entanto, frustrados em seu
intento pela oposição de Tamandaré e Porto Alegre, desejosos de evitar uma
maior perda de vidas, de restringir os danos morais e materiais sofridos
pe-la população civil da cidade.
Uma vez libertada Uruguaiana, Tamandaré segue com a esquadra para a
confluência dos rios Paraná e Paraguai, área escolhida para a penetração
em ter-ritório paraguaio. O bombardeio naval do forte de Itapiru e das
trincheiras inimigas em Passo da Pátria, seguido do desembarque das tropas
do General Osório, dão início à invasão. Poucos meses depois, os navios da
esquadra so-bem o rio Paraguai e atacam o forte de Curuzu. O exército de
Porto Alegre desembarca e após renhidos combates apodera-se do forte.
O próximo passo em direção a Assunção seria a tomada de Curupaiti. Os
navios bombardeiam as trincheiras paraguaias, mas o forte responde com
inten-so poder de fogo, atingindo os navios brasileiros. O Vice-Almirante
vai de na-vio em navio, em frágil embarcação miúda, em plena zona de fogo,
incentivar e orientar seus comandantes. No entanto, diante da resistência
do forte e das bai-xas nas fileiras aliadas, o presidente argentino, no
comando das forças terrestres, ordena a suspensão do ataque a Curupaiti.
Curupaiti representou para Tamandaré o término de sua atuação, por dois
anos e quatro meses, à frente de nossas forças navais nas campanhas do
Uruguai e Paraguai. Debilitado pelo esforço exigido pela guerra, doente,
des-contente com a conduta de Mitre, já escrevera ao Ministro da Marinha,
antes mesmo do ataque a Curupaiti, solicitando licença para ir ao Rio de
Janeiro tratar da própria saúde.
Algum tempo depois, a licença é concedida. Em dezembro de 1866, pas-sa o
comando ao futuro Visconde de Inhaúma. Chega ao Rio de Janeiro em
fe-vereiro do ano seguinte. Toma conhecimento, então, de que fora
promovido a Almirante.
O futuro Marquês - ele seria elevado a esse grau nobiliárquico em maio de
1888 - já não viria a exercer cargos efetivos na Marinha. Não deixaria,
po-rém, de acompanhar, mesmo de longe, a Guerra do Paraguai, em cuja fase
ini-cial tivera um papel proeminente; e de interessar-se pelas coisas da
Marinha, de cujos membros tornara-se alvo de verdadeira veneração. Foi
nomeado Ajudante de Campo do Imperador e, mais tarde, Ministro do Supremo
Tribunal Militar de Justiça, atual Superior Tribunal Militar, onde serviu
por longos anos, sendo exonerado do cargo após insistentes pedidos
formulados ao Ministro da Ma-rinha, em 1891, aos 83 anos de idade.
Já afastado do serviço ativo e de funções na vida pública, também não se
mostraria indiferente a acontecimentos que, nos últimos anos de sua vida,
mu-davam a face política e social do Brasil. Não se absteria de aprová-los
ou conde-ná-los. A presença deles em seu espírito se refletiria, por
exemplo, nas instru-ções que, sentindo com certeza aproximar-se o fim de
seus dias, redigiu para o seu sepultamento.
Um desses acontecimentos foi a Abolição da Escravatura. Sua visão do fato
é transparente nas instruções. Assim, ele exigia que seus restos mortais
fos-sem conduzidos para a sepultura "por meus irmãos em Cristo que hajam
obtido o foro de cidadãos pela Lei de 13 de Maio". Isso prescrevia como
"prova de consideração a essa classe de cidadãos em reparação à falta de
atenção que com eles se teve, pelo que sofreram durante o estado de
escravidão", e como "reve-rente homenagem à Grande Isabel Redentora,
benemérita da Pátria e da Huma-nidade, que se imortalizou libertando-os".
Outro acontecimento referido nas instruções foi a morte de D. Pedro II no
exílio, dois anos depois da Proclamação da República. Ao senso de justiça
e solidariedade humana, que o levavam a aplaudir a Abolição, alia
sentimentos de respeito e amizade pelo Imperador deposto. Por isso, não
desejava que em sua morte fossem-lhe prestadas honras militares. Ora -
argumentava - se a nação não havia "prestado honras fúnebres de espécie
alguma por ocasião do fale-cimento do Imperador" ... "a nenhum homem de
seu tempo se poderá prestar honras de tal natureza sem que se repute ser
isso um sarcasmo cuspido sobre os restos mortais de tal indivíduo". O
estilo direto e franco, sem rodeios, modula o protesto que a lealdade ao
soberano e o apreço pelo amigo não lhe permitiam esquecer ou omitir.
E vai mais longe na expressão de seus sentimentos, ao proibir a deposi-ção
de flores, coroas ou enfeites sobre o caixão. Seu patriotismo admitia, no
entanto, uma exceção: "só a Comenda do Cruzeiro que ornava o peito do Sr.
D. Pedro II em Uruguaiana, quando compareceu, como primeiro dos
Volun-tários da Pátria, para libertar aquela possessão do jugo dos
paraguaios". Mani-festam-se, nessa exceção, a alma do guerreiro, o brio e
a altivez que tantas vezes demonstrara em vida.
A simplicidade e o pouco caso por honrarias se confirmam no último item
das instruções: "Como homenagem à Marinha, minha dileta carreira, em que
tive a fortuna de servir à minha Pátria e prestar alguns serviços à
Huma-nidade, peço que sobre a pedra que cobrir minha sepultura se escreva:
Aqui Jaz o Velho Marinheiro".
Desse documento, escrito do próprio punho, projetam-se alguns traços do
caráter e da visão do Almirante sobre o Brasil de sua época. Ele reflete
pon-tos do pensamento de um cidadão que viveu de perto a história do país.
Partici-pou de quase todas as lutas da época, internas e externas. Esteve
presente nos momentos mais cruciais do primeiro século da existência do
Brasil independen-te. Alguém, que, por seus atributos pessoais foi capaz
de conquistar, ainda em vida, de uma forma que poucos brasileiros
conquistaram, o respeito e a admira-ção de seus contemporâneos. Os jornais
do dia seguinte ao de sua morte não deixariam de expressar tais
sentimentos.
Tamandaré foi um "exemplo vivo do mais acrisolado amor da Pátria e a prova
mais evidente do que podem o brio e a bravura" - dizia a Gazeta de
Notí-cias.
A Notícia afirmava: "O nome deste velho servidor da nossa Pátria
cons-titui um patrimônio dos mais honrosos para ela e um padrão de glória
para a nossa Marinha Nacional".
O Jornal do Brasil comentava: Tamandaré "foi um daqueles que tiveram a
justa satisfação de se verem consagrados nas bênçãos da Pátria e que se
sentem imortais em vida".
Diz Gustavo Barroso, que o povo "de todos os matizes, posições e
ida-des"..."em profundo e comovido silêncio"..."olhos pregados no chão"
encheu as ruas por onde passou o cortejo fúnebre do Velho Marinheiro rumo
ao cemi-tério do Caju.
Os elogios publicados nos jornais não eram gratuitos, nem uma simples
formalidade. Justificavam-se pelos serviços que Tamandaré prestou ao
Brasil. É bem verdade que ele não foi o vencedor de uma grande batalha
decisiva. Não foi o criador de uma concepção estratégica naval singular ou
inovadora. Não se imortalizou por uma façanha única e grandiosa, que
mudasse as tendências mais profundas da história. Mas destacou-se, foi
capaz de conquistar as "bênçãos da Pátria", pela força de seu caráter,
pela coerência e a firmeza de atitudes, que, sobrepostas às qualidades de
notável marinheiro e chefe competente, ponti-lharam e fizeram de sua vida
um contínuo harmonioso de atos de nobreza e destemor.
Poder-se-ia alegar, certamente com malícia ou segundas intenções, a
exemplo de alguns dos desafetos que a inveja ou o despeito lhe destinaram
na vida, que suas atitudes derivavam de impulsos do momento, alheios a
princípios e critérios - como se a coragem pudesse confundir-se com a
imprudência, ou o desprendimento com insensatez. Nada mais longe da
verdade. Um rol de valo-res morais, dando lustre e consistência a uma
visão do mundo, parece ter-lhe servido de guia e inspiração.
A procedência dessa suspeita fica evidente quando nos debruçamos so-bre os
ensinamentos que transmitiu a um Aspirante da Escola Naval, registra-dos
nas anotações deixadas pelo historiador Comandante Oliveira Bello. Vale a
pena despender alguns minutos a relembrá-las, pois elas nos revelam as
moti-vações mais profundas de seu comportamento, as bases de seu modo de
pensar e interpretar a vida.
Dizem as anotações que, já idoso, em uma de suas costumeiras visitas à
Escola Naval, um dos alunos lhe pediu que lhe falasse sobre a sua
concepção da honra. A explicação então formulada é muito simples e
objetiva. Para Taman-daré, a honra é uma espécie de energia vital,
peculiar a cada indivíduo. Como se lê, logo no início da fala: "é a força
que nos impele a prestigiar nossa persona-lidade. É o sentimento avançado
de nosso patrimônio moral, um misto de brio e de valor".
Em seguida ele enuncia os dois requisitos que considera indispensáveis à
sustentação desse "sentimento avançado". O primeiro se refere ao
entendimen-to e conseqüente adesão do indivíduo a certos valores morais. A
honra, ensina Tamandaré, "exige a posse da perfeita compreensão do que é
justo, nobre e respeitável, para elevação da nossa dignidade". Para ele,
portanto, a dignidade do indivíduo não se dissocia nem prescinde do
comportamento pautado na observância desses valores; não pode estar
desvinculada da opção por tudo aquilo que é "justo, nobre e respeitável".
Já o foco do segundo requisito é a disposição ou atitude que se espera de
quem cultiva a honra. Ela exige, diz Tamandaré, "a bravura para
desafrontar perigos de toda ordem, na defesa da verdade, do direito e da
justiça". A honra, portanto, contempla objetivos - a verdade, o direito e
a justiça - para a preva-lência dos quais a bravura é imprescindível. Ela
perde o seu valor, desvanece, não subsiste sem a bravura. .
Ao expor ao aluno da Escola Naval sua visão da honra, Tamandaré nos revela
o sentido que atribui à vida. Creio não estar exagerando, ao afirmar que
nesse sentido da vida se encerra o fulcro da vontade e da animação de toda
uma existência dedicada ao serviço do Brasil. E, se examinarmos com um
pouco mais de atenção suas palavras, veremos que nele se articulam os
elementos es-senciais de um projeto de vida.
Objetivos do projeto: a verdade, o direito e a justiça. Meio para alcançar
os objetivos: a honra, que, de certa maneira, se confunde com a dignidade
do indivíduo. Natureza desse meio: uma força, um sentimento avançado.
Requi-sitos para a sua operação: a perfeita compreensão dos valores que
norteiam a sociedade - o que é justo, nobre e respeitável - e a bravura
para enfrentar pe-rigos no caminho dos objetivos.
Mas não termina aí a lição ministrada pelo Almirante ao Aspirante. Ele
ainda lhe diz alguma coisa sobre o grau de importância que deve ser
conferido à honra. E, nesse ponto, o desapego a bens materiais e o sentido
de missão que impregnaram sua vida aparecem em toda a plenitude. "Esse
sentimento [a honra]" - diz o Almirante - está acima da vida e de tudo
quanto existe no mundo, porque a vida se acaba na sepultura, os bens são
transitórios, enquanto que a honra a tudo sobrevive".
Nada mais importante que a honra. Sem ela, ele se sentiria desarmado,
desprovido da força, das reservas morais que necessita para enfrentar os
perigos no caminho da verdade, do direito e da justiça. E, se a
expectativa de atingi-los se dissipa, tudo perde o seu valor. O caos se
instala. Sem a honra, não pode atingir os fins, e sem atingir os fins tem
de reconhecer o fracasso da missão a que se propôs na vida.
As palavras de Tamandaré nos levam a uma breve reflexão. Afinal de contas,
nelas não se combinam os traços mais salientes do perfil do herói? O herói
não se distingue dos homens comuns por um esforço corajoso e altruísta de
superação de tudo aquilo que é falso, opressivo, injusto? Não simboliza a
capacidade latente em todo ser humano de orientar o seu destino, mesmo que
às custas, como no mito de Prometeu, do sacrifício da própria vida, na
busca da sabedoria ou do poder para servir aos outros - ou, ainda, como no
caso do Al-mirante, da honra, para investir na construção de uma pátria
que deseja ali-cerçada na verdade, no direito e na justiça?
Não creio que se possa contestar o fato de que, em Tamandaré - não só por
suas palavras, que poderiam não ser coerentes com a ação, mas, sobretudo,
pelas atitudes que assumiu na vida - encarnam-se alguns dos atributos mais
dig-nificantes do herói. Alguém que não viveu apenas para si, mas
empenhou-se em perseguir o bem de todos, apesar dos danos e incompreensões
a que pudesse estar sujeito trilhando esse caminho.
E, não é difícil concluir de sua vida, que, para ele, o bem de todos tem
como premissa a grandeza da nação. Não qualquer tipo de grandeza,
artificiosa e vã, arrogante e impositiva, mas a que tem raízes na
independência, na soberania, na unidade política e territorial do país, na
conquista do respeito e da amizade das demais nações. Dentro dessa moldura
política, da qual afloram a consciência e o sentimento de nação, é que
existiriam condições para o progres-so e a felicidade do Brasil.
E é no serviço da Marinha, no qual se engaja de forma consciente e ao
mesmo tempo apaixonada - fosse a bordo da fragata Niterói, nas lutas
internas ou nas guerras do Prata e da Tríplice Aliança - que encontra o
campo propício para dedicar-se à promoção dessa grandeza.
Uma dedicação que, talvez, ninguém melhor do que o Almirante Jace-guai
interpretaria, ao observar, em suas Reminiscências da Guerra do Paraguai,
que a todos os predicados que elevavam Tamandaré "juntava-se o de ser
feliz". Uma felicidade - podemos com toda a certeza imaginar - nascida de
uma vocação plenamente satisfeita, de um caráter em perfeita sintonia com
a vida na Mari-nha, por maiores que fossem - ou talvez até por isso mesmo
- os contratempos e riscos que tivesse de enfrentar. No mar e na Marinha,
ele estava de bem com a vida. E Jaceguai remata o retrato de seu antigo
chefe frisando que o fato de "ser feliz" não seria predicado a
desprezar-se "na escolha dos homens que devem dirigir empresas
arriscadas".
Poder-se-ia julgar, à primeira vista, que Tamandaré nada tenha a nos
di-zer sobre o tempo presente, sobre o tempo que vivemos. Muito diferente
do atual foi o período de nossa história que ele viveu. Um período que
assistiu à consolidação do Estado brasileiro e aos primeiros passos da
formação da nacio-nalidade. Duzentos anos depois de seu nascimento, são
outras as questões que nos afligem, as aspirações que acalentamos, o
panorama político que baliza a presença do Brasil no cenário mundial.
Mas, na verdade, se ele tem alguma coisa a nos dizer, pouco importa o
tempo que nos separa dos dias de sua vida. Tamandaré é parte da história,
e ela não se reduz a uma simples narrativa, estéril e descomprometida, de
fatos en-terrados no passado, destinados a jamais se repetirem. A história
é também uma explicação. Uma explicação da vida e dos atos humanos, das
circunstâncias e motivos que os levam a consumar-se. Como, aliás, já
observara um dos maiores historiadores do século XX, o francês Fernand
Braudel: "O verdadeiro objetivo da história não é, talvez, o passado -
esse meio - mas o conhecimento dos homens".
Pois bem, se a história nos ajuda a entender os fundamentos e o sentido da
conduta dos homens, podemos afirmar que o Velho Marinheiro tem muita coisa
a nos dizer e a ensinar sobre o tempo presente. Um tempo de incertezas e
apreensões, de acentuadas transformações na política e na economia, na
cultura, no campo da tecnologia. Um tempo em que nos dispomos a construir,
apesar dos desenganos e, até mesmo, do desalento que às vezes nos assalta,
a nação li-vre, justa e solidária de que nos fala a Constituição.
Por isso mesmo, Tamandaré nos surge do passado como exemplo e fon-te de
inspiração. Um passado no qual nos deparamos com momentos de sua vida em
que as atitudes sobranceiras e a altivez de seu caráter se destacam. Em
outros, a coragem física e moral, a determinação e a força de vontade
pontifi-cam. Continuando a exploração, a generosidade, a consideração
pelos mais fra-cos, a convicção com que defende princípios e valores, a
confiança nos destinos do Brasil, ficam mais do que patentes.
Tamandaré nos legou um patrimônio moral de dignidade profissional, de
virtudes militar e marinheira, de amor ao país em que nasceu. Um
patrimônio acumulado no decorrer dos muitos episódios que marcaram, no
século XIX, a presença da Marinha em nossa história. Um patrimônio que nos
instiga a reno-var e afirmar nossa fé no futuro do Brasil como nação. Uma
nação não se constrói no vazio, não amadurece sem ter à vista os exemplos
de nobreza e integridade dos grandes vultos de seu passado. Não seria,
enfim, pela falta de heróis, como aquele cujo bicentenário de nascimento
ora celebramos, que essa fé poderia extinguir-se.

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